Brasil continua fazendo ‘economia burra’ com ciência, diz Marcos Cintra
Em momentos de crise, recursos para pesquisa deveriam ter aumento e não cortes, afirma ex-secretário da Receita Federal de Bolsonaro
Poucos dias após deixar o cargo de secretário da Receita Federal do governo do presidente Jair Bolsonaro, o economista Marcos Cintra afirmou que mantém a mesma opinião que manifestou em julho de 2017, quando era presidente da Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), no governo de Michel Temer: cortar recursos para pesquisa em ciência e tecnologia é fazer “economia burra”.
“A sociedade brasileira ainda não apercebeu a importância estratégica dessa atividade [ciência e tecnologia]. Em momentos de crise, seus recursos deveriam ter um incremento, e não redução”, afirmou Cintra, que é professor titular e vice-presidente licenciado da Fundação Getúlio Vargas em São Paulo (FGV-SP). O economista se graduou em 1968 na Universidade Harvard, nos Estados Unidos, onde também concluiu seu doutorado em 1985.
Conversando por telefone com Direto da Ciência na manhã desta terça-feira (24), Cintra foi questionado sobre se considera que a “economia burra” com C&T continua no atual governo. Ele respondeu que sim, ressaltando que a falta de compreensão da importância estratégica da pesquisa não é exclusiva do governo atual.
‘Visão tacanha’
Cerca de 80 mil bolsas de pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) – que é vinculado ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC) –, dependem do repasse de R$ 330 milhões do governo federal. Na semana passada, o Ministério da Economia, ao anunciar a liberação para todo o Poder Executivo de R$ 8,3 bilhões que estavam bloqueados, informou que desse montante apenas R$ 80 milhões serão destinados ao MCTIC.
No orçamento do CNPq para 2020, os recursos para o financiamento de atividades de pesquisa estão previstos em apenas R$ 16,5 milhões, o que significa um corte de 87% em relação aos R$ 127 milhões aprovados para este ano.
Em julho de 2017, no cargo de presidente da Finep – que é vinculada ao MCTIC –, Cintra se posicionou contra o bloqueio de recursos para o setor. Em entrevista ao jornalista Herton Escobar, na época repórter do Estadão, ele afirmou: “o contingenciamento está sendo feito da forma mais burra possível”. E enfatizou que “ciência e tecnologia são o substrato de qualquer desenvolvimento econômico” (“Cortar recursos da ciência é economia ‘burra’, diz presidente da Finep”).
“Não é prioridade aqui no Brasil”, disse Cintra referindo-se à pesquisa. E acrescentou: “Essa visão tacanha é uma tradição brasileira”.
(Direto da Ciência)
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