Brasil investe muito pouco em tecnologia industrial, diz pesquisador da UFCG
UFCG é uma das instituições pioneiras no Brasil em assimilar inovações da Indústria 4.0
Depois da Revolução Industrial, era que os estudos contemporâneos chamam de Indústria 1.0; da incorporação da eletricidade e da linha de montagem, a Indústria 2.0; e dos primeiros sistemas de automação, a Indústria 3.0; vivemos atualmente a quarta revolução, a Indústria 4.0, era da Inteligência Artificial, Internet das coisas, Biologia Sintética, Interconectividade e Big Data, e a Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) é uma das instituições pioneiras no Brasil a assimilar inovações decorrentes das atuais mudanças no cenário tecnológico.
“Embora seja uma realidade no mundo, no Brasil, ainda estamos muito atrasados. Apenas 2% das empresas nacionais têm condições de recebê-la e utilizá-la. A UFCG já tem vários laboratórios com essa capacidade, e isso nos engrandece enormemente, mas a verdade é que o mercado brasileiro de uma forma geral ainda não está preparado”, explica o professor Heleno Bispo, da Unidade Acadêmica de Engenharia Química.
Os dados comprovam o que o professor diz. Em 2017, o Brasil disponibilizou cerca de US$ 20 bilhões para investimentos em inovação, enquanto que a Alemanha investiu U$ 105 bilhões; a China, U$ 279 bilhões; o Japão, U$ 140 bilhões; e os EUA, U$ 533 bilhões. O mesmo estudo aponta que, se considerarmos quatro fases de evolução na tecnologia usada nas empresas, 39% das brasileiras ainda estão no segundo nível, e 37% não chegam a passar do primeiro.
Na UFCG
Se o Brasil cresce lentamente em direção ao futuro das indústrias, o mesmo não se pode dizer da UFCG. Inúmeros laboratórios da universidade contam com tal tecnologia. Um dos centros que se destacam é o Centro de Ciências e Tecnologia (CCT). A Unidade Acadêmica de Engenharia Química (UAEQ) é referência e vem conseguindo bons resultados nos últimos anos, além de atrair o interesse de grandes empresas.
“Não sei exatamente se somos os pioneiros no país, mas não tenho conhecimento de outra instituição relacionada com a indústria química que tenha trabalhos tão evoluídos. O Brasil tem poucos núcleos nesse contexto, e nós queremos seguir inovando para nos destacar cada vez mais”, contou o professor Heleno Bispo, que também coordena o Laboratório Iridium, da UFCG, voltado a pesquisas no campo da Indústria 4.0 e um dos principais responsáveis por um sistema de parcerias estabelecido entre a UFCG e inúmeras multinacionais de renome do mundo.
“Estamos nos juntando com grandes nomes do mercado. A instituição ganha, os alunos aprendem e se destacam acima da média, e cresce o interesse dessas empresas pelas parcerias e até por contratar os alunos formados aqui”, disse.
Uma das empresas parceiras é a Petrobrás. Ela tem dois projetos desenvolvidos e um em desenvolvimento somente com a unidade. É uma associação prática. Ou seja, a indústria tem problemas pontuais e não consegue resolvê-los. Os profissionais e pesquisadores da UFCG trabalham para solucioná-lo, efetuando uma relação em que todos os lados saem ganhando.
Outra forma de parceria se relaciona com a disponibilização de softwares. Por exemplo, entram nessa lista nomes como Schneider/AVEVA, Honeywell, Tableau, Osisoft. Para se ter uma ideia, neste último caso, a empresa cede à universidade um pacote de softwares que custa, no mercado comum, aproximadamente US$ 900 mil. “É uma troca bastante rica. Nossos alunos, desde cedo, nos primeiros períodos, começam a trabalhar com esses programas, a manuseá-los e entendê-los. É claro que, quando se formam, estão à frente no mercado”, explicou o professor.
Iridium
Se as tecnologias se reinventam, o mesmo acontece com o mercado. A partir das especialidades obtidas no dia a dia em diversos laboratórios da UFCG – e da necessidade encontrada no mercado –, professores da UAEQ oficializaram, este ano, a montagem de um novo laboratório, totalmente voltado para a pesquisa e para enfrentamentos de problemas relacionados à Indústria 4.0. Trata-se do Iridium.
“No futuro, o projeto é que não seja apenas um laboratório, mas sim um núcleo de pesquisas aplicadas a processos industriais, contando com o suporte dos laboratórios da própria UFCG”, explicou o coordenador do projeto, o professor Heleno Bispo.
Segundo ele, a ideia se espelha em um projeto de sucesso já concretizado: o Virtus/UFCG (Núcleo de Pesquisa, Desenvolvimento e Inovação em Tecnologia da Informação, Comunicação e Automação).
Na verdade, o sonho é realmente alto e vai além. O projeto do professor Heleno inclui a construção, por exemplo, de salas de reuniões modernas e ambientes simulados para capacitação, treinamento e projetos. “Temos o know-how, a técnica, sabemos fazer. Claro, não temos a estrutura ainda, e é nisso que vamos trabalhar nos próximos anos, conseguir apoio e investimentos”, contou, lembrando que já se trata de algo existente em várias universidades pelo mundo.
“O contato e o treinamento em uma sala de controle, de uma unidade industrial, é essencial para o aprendizado, pois traz o aluno cada vez mais perto da realidade. Por exemplo, você confiaria viajar em um avião pilotado por alguém que não praticou horas e horas em um simulador? É isso que acontece atualmente na indústria química, por exemplo, vários estudantes saem da universidade para assumir cargos de controle, sem ter a noção real das atividades que vão realizar”, finalizou.
(Ascom CCT/UFCG)
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