Programa da UFCG promove a inclusão de estudantes com deficiência
Beneficiário e monitora falam de suas experiências e destacam importância do programa como instrumento de inclusão e como experiência de vida
De acordo com os relatórios da Pró-Reitoria de Ensino (PRE) da Universidade Federal de Campina Grande, referentes ao período 2022.1, há, em toda a instituição, 640 estudantes PcDs (Pessoas com Deficiência), o que representa cerca de 5% do universo discente. Os dados revelam o crescimento do número de PcDs nos últimos anos na instituição e chamam a atenção para a importância das ações desenvolvidas pelo Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI).
Criado em 2016, o NAI é um órgão vinculado à Reitoria que visa promover ações para incluir estudantes com deficiência, Transtornos do Espectro Autista (TEA), altas habilidades ou superdotação e transtornos específicos. Para isso, são oferecidos serviços especializados, como serviços de textos em Braille, técnicos em assuntos educacionais, intérpretes de Libras e o Programa de Monitoria Inclusiva, essencial para que muitos alunos possam realizar a tão sonhada formação acadêmica.
É o caso de Matheus Rennan, aluno do curso de Letras - Língua Portuguesa, no campus sede. Aos oito anos, ele descobriu que estava perdendo a visão. Um ano após o diagnóstico preliminar, o jovem perdeu totalmente a visão e passou a conviver com os desafios impostos pela cegueira, uma doença que acomete mais de 1,5 milhão de brasileiros, de acordo com a publicação As Condições da Saúde Ocular no Brasil 2019, do Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO).
Na infância, a ausência de acessibilidade nas escolas quase interrompeu o sonho de Matheus em conquistar uma vaga em uma universidade pública, mas ele permaneceu firme e, aos 19 anos, conseguiu a tão sonhada aprovação na UFCG. Na graduação, os desafios permanecem os mesmos, mas agora o estudante conta com o apoio dos professores e também da sua monitora Lara Silva.
"Antes de me tornar um estudante universitário, nunca tinha vivenciado a experiência de ter um monitor ao meu lado ou muito menos alguém que pudesse me auxiliar nas atividades visuais, no deslocamento ou até mesmo na socialização junto aos outros alunos. Então, esta experiência tem sido muito importante para mim." explica o jovem de 20 anos.
Na busca pelo diploma, Matheus gasta, todos os dias, cerca de 10 minutos para chegar até a universidade. Desde 2019, este é o único trajeto que o estudante faz sozinho, sem a companhia de Lara, sua amiga e, agora, monitora.
Lara Rachel, 19 anos, faz parte do seleto grupo de monitores inclusivos do campus sede. A estudante de Letras - Língua Portuguesa conta que teve um contato preliminar com Matheus ainda no primeiro semestre do curso, quando eles passaram a nutrir uma amizade que resultou num incentivo à sua inscrição no Programa de Monitoria Inclusiva.
"No primeiro período do curso, fiz amizade com Matheus. Antes disso, ainda não tinha tido contato com uma pessoa com cegueira. Então, tenho aprendido bastante a como auxiliá-lo deslocamento no âmbito universitário, na inclusão em conversas, nas transmissões de maneira didática dos conteúdos e me permite conhecer como ele lida com todas essas questões" relata a estudante.
A rotina diária dos dois estudantes começa logo cedo. "Por volta das 7h45min, Matheus chega à universidade, coloca a mão no meu ombro e seguimos para a sala de aula. Ao longo do percurso, sempre aviso sobre degraus, pessoas, se vamos precisar subir ou descer escadas e outros aspectos que o ajudam a saber por onde estamos passando. Em sala de aula, descrevo o que os professores estão ensinando, como slides, imagens ou anotações no quadro. Ao final das aulas, o levo até o ponto de ônibus e aguardo até que ele chegue. À tarde, às 16h, realizamos uma chamada via Google Meet ou pelo Whatsapp, para o estudo, leitura, discussão e realização das atividades", detalha Lara.
Os monitores inclusivos atuam no acompanhamento presencial e à distância, dando suporte ao uso de tecnologias e adaptação de material acadêmico, como a digitalização de obras bibliográficas e confecção de materiais em relevo utilizados pelos estudantes PCDs durante a realização das atividades acadêmicas. Ao todo, são 15 monitores, sendo sete bolsistas e oito voluntários, que desempenham as atividades de apoio aos discentes.
No dia a dia, Lara também atua instruindo Matheus na utilização da audiodescrição, que serve para leitura dos textos em formato PDF, como também lendo e digitalizando as respostas ou fichamentos verbalizados por ele durante as chamadas de vídeo.
Antes de ser monitora, Lara afirma que nunca teve contato com uma pessoa com cegueira. “Então, para mim, o combustível diário para permanência na Monitoria consiste na necessidade de aprender cada dia mais sobre acessibilidade”.
"Certo dia, Matheus me perguntou onde deveria clicar para acessar um site pelo celular e respondi sem pensar: no botão azul. Ele riu com a resposta. Automaticamente, entendi que não fazia sentido a minha explicação, tendo em vista a deficiência dele. Este evento me fez refletir sobre o quanto precisamos aprender a sermos mais didáticos e acessíveis às pessoas com deficiência".
Além dos monitores, o Programa de Monitoria Inclusiva conta também com o apoio de professores da universidade que servem como orientadores e incentivadores de obras a respeito das temáticas inclusivas, obras essas que incentivam a produção acadêmica e reforçam ainda mais a importância da discussão sobre acessibilidade no ambiente universitário.
"Tive o privilégio de ser orientada pelo professor Aloísio Dantas, que, além de auxiliar de maneira receptiva, me propôs a escrever um artigo relacionado ao tema. A escrita do artigo contribuiu ainda mais para a minha percepção de como uma pessoa com cegueira constrói o seu imaginário sobre lugares, pessoas e objetos. Tenho buscado identificar isso na prática, ao auxiliar Matheus na monitoria, aprendendo sobretudo sua percepção quanto ao ambiente universitário e o que compõe esse âmbito", afirma.
"A acessibilidade no âmbito universitário tem muito ainda o que melhorar, mas o Núcleo de Acessibilidade Inclusiva está sendo essencial para evolução deste processo, assim como a monitoria tem sido fundamental para a inclusão e adaptação de estudantes com deficiência na universidade”, observa Lara.
Matheus também faz questão de reconhecer a importância do programa. "A monitoria tem me proporcionado esforço e dedicação para a realização dos trabalhos, atividades e qualquer coisa relacionada à universidade. Espero que o programa possa continuar para que os alunos que ainda não tiveram essa experiência possam desfrutar desse auxílio", finalizou.
Período 2023.2
Para o Período Letivo 2023.2, cujas aulas terão início no dia 1° de fevereiro de 2024, o Programa de Monitoria Inclusiva disponibilizou 53 bolsas para monitores, distribuídas entre os campi Campina Grande, Cajazeiras, Cuité, Patos e Sumé. O valor da bolsa é de R$ 500 mensais. O resultado da seleção sairá no próximo dia 28 de dezembro.
(Ascom UFCG)
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