UFCG empossa primeiro pianista cego de uma instituição federal de ensino superior
Jessé Oliveira foi aprovado no último concurso público para servidores técnico-administrativos
Quando passou em primeiro lugar no vestibular de Música da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG) e concluiu a graduação, em 2023, Jessé Oliveira, primeiro aluno cego do curso na instituição, julgava ter enfrentado um dos maiores desafios de sua vida. Mas a disciplina e a determinação do músico o levaram ainda mais longe. Nessa segunda-feira, dia 24, Jessé retornou à UFCG, dessa vez para a posse como servidor técnico-administrativo: ele é o primeiro pianista correpetidor cego de uma instituição federal de Ensino Superior do Brasil (correpetidor é o instrumentista especializado em acompanhar atividades docentes).
Aos 29 anos e deficiente visual de nascença, devido a uma má formação do globo ocular, Jessé tem contato com a música desde criança. Brincava com teclado de brinquedo, escutava música clássica e sempre prestava atenção em trilha sonora de desenho animado. O pai, seu José Gonçalves de Oliveira, lembra que desde muito novinho, estimulado por um tio sanfoneiro, Jessé já tocava teclado com os pés.
Orgulhoso e visivelmente emocionado durante a posse do filho, o pai conta que brincava ao ver a cena: “esse camarada vai dar pra alguma coisa’”. E deu. O talento notório para a música fez com que os pais incentivassem o filho na aprendizagem da arte e, aos cinco anos, ele passou a ter aulas de musicalização, no Instituto dos Cegos de Campina Grande. Foi lá onde Jessé teve as primeiras noções de ritmo, fórmula de compasso, partitura, tom maior e menor. A família, do município de Itatuba, viajava mais de 50 km para investir no dom do filho.
O tempo passou e, anos mais tarde, o músico foi a um Festival Internacional de Música de Campina Grande (FIMus) e se encantou. “Eu ia aos concertos e aquilo me fascinava. Eu dizia ‘eu quero fazer o curso de música’. Isso me estimulou bastante. Meus pais em princípio duvidaram que eu conseguisse passar pelo Enem, mas eu fui aprovado com a nota mais alta do vestibular. Fui um dos alunos mais aplicados em uma turma de 30. Eu debatia de maneira construtiva, fazia as tarefas, pegava as músicas e tocava”, lembra.
Jessé lembra ainda que, apesar dos desafios, sempre teve suporte da UFCG durante a sua trajetória acadêmica, através dos professores, colegas de curso e da monitoria inclusiva, por meio do Núcleo de Acessibilidade e Inclusão (NAI) e da Pró-Reitoria de Assuntos Comunitários (PRAC).
Dois anos após concluir a graduação, o multi-instrumentista que toca 25 instrumentos - entre eles, teclado, piano, sanfona, violão, guitarra, baixo, flauta doce e transversal -, chega ao quadro de servidores técnico-administrativos da UFCG como músico especializado em auxiliar outros instrumentistas ou cantores durante ensaios e preparação de apresentações. Jessé, que ficará lotado na Unidade Acadêmica de Música (UNAMus), terá como atribuições do cargo tocar, escrever partituras e participar de atividades acadêmicas.
“Vou confessar que se eu tive desafios no caminho, eu não me lembro, porque além de ser uma pessoa decidida e ter tido muito suporte, eu sempre pensei que se aparecesse desafio, a gente deve pensar em meios de superá-lo. Inclusive tem uma frase do professor Vladimir (professor da UFCG e coordenador do FIMus) que eu peguei para a minha vida: ‘se você se deparar com um problema, pense logo na solução dele, não mastigue seu pensamento com o problema. Barreira é feita pra gente superar’”, resumiu.
(Ascom UFCG)
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