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Propósito de vida e felicidade no centro do projeto de universidade mexicana

 

Em um ambiente de crise financeira em que famílias e estudantes se questionam se um curso superior será suficiente para garantir um futuro próspero, o reitor da universidade mexicana TecMilenio trouxe ao 3º Seminário O Futuro do Ensino Superior, promovido pelo Semesp (Sindicato das Entidades Mantenedoras de Estabelecimentos de Ensino Superior no Estado de São Paulo), novos argumentos para o debate: felicidade e propósito de vida.

 

Privada e sem fins lucrativos, a TecMilenio nasceu em 2002 para atender a uma população que não poderia pagar pelo irmão mais caro, o Tecnológico de Monterrey, e precisava continuar trabalhando para completar seus estudos. Após um rápido crescimento logo nos primeiros anos (13 vezes), em 2012 a curva virou. “As crises nos ajudam a inovar, você já deve ter ouvido isso em algum lugar. Em 2012, quando as matrículas diminuíram, a direção se reuniu em busca de respostas à pergunta ‘Qual é o futuro desta universidade?`”, contou o reitor Héctor Escamilla.

 

Foi nesse momento que a instituição resolveu rever seu papel (o tal “mindset”, jargão da moda) e a abordagem e partir para algo que ainda hoje é visto como necessário, porém enormemente desafiador: uma educação baseada no desenvolvimento de competências. Nos Estados Unidos, uma pesquisa detectou exatamente essa disparidade entre o que as instituições de ensino pensam que oferecem, o que a opinião pública entende e o que as empresas demandam. De 99% no primeiro caso, os números caem para 13% e 11%, respectivamente.

 

Na busca por um modelo que lhe garantisse uma nova identidade e diferenciação em relação às concorrentes, a TecMilenio olhou para a lista de habilidades mais necessárias em 2022 de acordo com o Fórum Econômico Mundial e apostou em duas: bem-estar e projeto de vida.

 

Para atingir esse objetivo, no entanto, era urgente repensar o modelo baseado em um currículo linear e padronizado (dando lugar a uma personalização) e colocar o aluno no centro do processo educativo.

 

“As empresas buscam as necessidades dos clientes e, como universidade, precisamos atender às necessidades dos alunos, dos pais de família e das empresas. O importante sempre é que vivemos uma pirâmide de cultura invertida, onde identificamos que nós, que estamos aqui, não somos a parte mais importante de uma universidade”, disse o reitor.

 

Personalização e prática

 

Em busca de alternativas para tornar a trajetória acadêmica mais flexível e a serviço do interesse de cada aluno, a TecMilenio olhou para o que acontece em diferentes universidades do mundo. Dentro de uma média de 40 a 60 matérias necessárias para se obter um diploma de nível superior, alunos geralmente só conseguem modificar cerca de 27% do currículo.

 

“Quando você desenha um programa com base em competências, acaba descobrindo que algumas não fazem sentido. Começamos a analisar as carreiras da TecMilenio e vimos que se em uma carreira havia matérias que não tinham foco no desenvolvimento de competências do século 21 seriam retiradas”.

 

Deste modo, a TecMilenio atingiu 40% de flexibilidade em carreiras de engenharia e negócios. O restante é formado por conhecimentos básicos. Mais especificamente na carreira de engenharia industrial, são oferecidos 7 certificados, que o reitor compara a peças de LEGO. Quando colocadas lado a lado, comprovam o desenvolvimento de competências.

 

Ao longo desse curso, um aluno pode escolher certificados em áreas como administração de negócios, criação de empresas, inovação e empreendedorismo, vendas, mercadorias digitais, psicologia organizacional e logística. “Uma universidade tradicional poderia dizer ‘aqui preparamos engenheiros’. Na TecMilenio, dizemos personalize sua carreira e escolha de acordo com suas preferências. Se quiser seguir como engenheiro, escolha certificados relacionados, mas se precisar combinar engenharia e negócios, por que não? Isso nos dá muitas possibilidades de estudar engenharia”.

 

Para juntar as peças de LEGO, a instituição mexicana se inspirou no modelo alemão, que estimula que alunos dividam sua jornada entre teoria e prática, geralmente em estágio. “Se queremos altos níveis de empregabilidade, temos que mudar. Temos 9 em cada 10 alunos trabalhando antes de terminar a graduação porque estabelecemos 950 convênios com empresas. Em cada lugar onde existe um campus, criamos um conselho de emprego com líderes de recursos humanos, diretores de empresas para implementar a conexão das universidades com as empresas e ao mesmo tempo criar oportunidades de trabalho”.

 

Educação para felicidade

 

Uma terceira dimensão que também mudou o jeito de ensinar e de gerir a TecMilenio tem a ver com a visão de que a universidade precisa ser o melhor lugar para estudar e preparar alguém para ser feliz.

 

Harvard e Yale, duas universidades que integram o grupo de elite dos Estados Unidos, já perceberam isso e suas disciplinas ligadas ao ensino da felicidade e à psicologia positiva têm registrado grande procura. Segundo artigo do New York Times, enquanto matérias normais atraem em média 600 alunos, essas novas disciplinas chegam a registrar mais de 1.000 inscrições.

 

A saída adotada pela TecMilenio foi construir um ecossistema de bem-estar e felicidade que deu origem a uma caixa de ferramentas com sete itens: positividade; envolvimento, realização, bem-estar físico, relações positivas, atenção plena e significado. Ao centro desse projeto está o aluno e, em um segundo nível os programas acadêmicos, a infraestrutura física, o corpo docente e demais funcionários e os clubes.

 

“Não é uma aula (sobre felicidade) que faz a diferença. É todo o ecossistema. Para isso, temos que preparar os professores e o corpo diretivo para que estejam 100% certos que liderança e a psicologia positiva trazem bons resultados. O que buscamos com alunos também é possível realizar com as pessoas que trabalham na universidade”.

 

O mais recente passo da universidade nesta direção foi a criação do Instituto de Ciências para Felicidade e Bem-Estar, que faz pesquisa em educação positiva e liderança positiva, que realiza um fórum anual sobre o tema (atualmente na 7ª edição, a ser realizada em novembro em Monterrey). “Doze anos atrás as pessoas davam risada quando falávamos sobre felicidade. Hoje nos respeitam muito”, disse o reitor.

 

Resultados

 

O que aconteceu com a TecMilenio desde que a ficha caiu em 2012? A instituição passou de 34 mil alunos para os atuais 60 mil em 30 campi e sonha em chegar a 160 mil em seis anos. Junto a organismos como ONU (Organização das Nações Unidas) e a OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico) é uma das instituições criadoras da Rede Internacional de Educação Positiva, dedicada a levar essa visão para instituições de todo o mundo desde a educação infantil ao ensino superior.

 

(Porvir)

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