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Pesquisa nacional pode sofrer com ‘fuga de cérebros’, afirma chefe de pesquisa do Inca

 Para João Viola, investimento em formação de pessoal é fundamental para renovação do quadro de pesquisadores

O Brasil pode sofrer com a chamada “fuga de cérebros” — quando profissionais qualificados deixam o país para atuarem no exterior — e com a falta de renovação no quadro de pesquisadores nos principais institutos brasileiros caso o corte na área de pós-graduação seja consumado.

A avaliação é de João Viola, chefe da pesquisa experimental e translacional do Instituto Nacional do Câncer (INCA). Ele diz que o cenário que se desenha para a pesquisa nacional é preocupante.

Somente no instituto que Viola coordena, oito das 20 bolsas ofertadas (quatro de mestrado e quatro de doutorado) pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) foram contingenciadas desde o bloqueio anunciado na última semana pelo ministro da Educação, Abraham Weintraub.

O restante dos 150 alunos da instituição é formado por bolsistas da Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), além de alguns que recebem de um programa de bolsas próprio do Inca. Outros 15 alunos não recebem bolsa.

— Nós realizamos o processo seletivo como em todos os anos, e já tínhamos escolhidos os alunos. Quando fomos acessar o sistema, as vagas não constavam mais. Nós já sofremos com uma proporção muito baixa de pesquisadores para os alunos que nós temos, e o cenário é alarmante, porque os poucos profissionais que preparamos podem sair do país devido à falta de oportunidades — afirma.

'A pesquisa precisa de renovação'

No Inca, há apenas 26 pesquisadores para os 150 bolsistas, sendo que boa parte deles pode se aposentar em até 5 anos. A principal preocupação de Viola está no tempo que se leva para formar um pesquisador : apenas entre a graduação e o doutorado levam-se, no mínimo, 11 anos de estudos.

— É extremamente grave a situação atualmente. Devemos nos lembrar de que a ciência nacional é conduzida pela pós-graduação. Então, [o bloqueio de verba] vai impactar significativamente, tanto de imediato quanto no longo prazo, porque não é uma formação rápida. Nós já fizemos várias solicitações junto à Capes na tentativa de reverter esse bloqueio, mas não tivemos retorno — lamentou.

Especializado em tratamentos contra o câncer, o instituto realiza atualmente um grande levantamento que mapeia a base genética da população brasileira a fim de compreender quais fatores levam à incidência da doença no país. Outro projeto em andamento estuda a resposta à imunoterapia e a avaliação de novas terapias imunes para pacientes com câncer.

Por conta da avaliação do instituto junto à Capes ter nota 5, o Inca não teve as bolsas desbloqueadas nesta segunda , quando apenas as entidades avaliadas em 6 e 7 receberam o benefício.

(O Globo)

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